domingo, 14 de fevereiro de 2016

Olissipo e a chegada do COLOMBO - E TUDO MUDOU

A versão mais antiga da lenda destes mártires aparece no Martiriológio de Usuardo que data de 875. A partir desta data estes mártires são referidos noutros textos, sendo o seu culto muito difundido no antigo condado Portucalense, no condado de Coimbra e na Galiza(8). Lendas que seriam do conhecimento dos frequentadores do Convento de Santos.


Numa versão da lenda afirma-se que os três irmãos, de origem aristocrática, viviam em Roma quando lhes apareceu um anjo que lhes disse para virem para Lisboa, onde "alcançariam a coroa do martírio"(9). Em Lisboa foram martirizados e os seus corpos atirados à água no meio do Rio de Tejo, mas milagrosamente vieram ter ao local que ficou conhecido de Santos.


No século XV, antes de 1471, foi escrita uma narrativa apócrifa destes mártires (5) que Colombo certamente conheceu (6).


Terá igualmente conhecido o mais famoso dos milagres do século XV ligado ao culto destes mártires (7).Este milagre ocorreu, em 1471, envolve uma batalha, uma tempestade e um naufrágio. Quando D. Afonso V conquistou Arzila, haviam muitos soldados no mar, que foram apanhados por uma tempestade de noite. Perante o perigo pediram perdão e protecção aos mártires de Lisboa. Milagrosamente foram levados até Cádiz e dali a Barrameda, regressando são e salvos a Portugal.


2.3. Um Episódio Marcante
Na altura que Colombo frequentava o Convento de Santos,  D. João II, ainda príncipe, também o fazia. Há um episódio histórico que regista este facto.
Quando D. Afonso V foi para França, D. João ficou como rei em Portugal. Estando a viver nas casas do convento ou num paço  junto ao mesmo (10), no dia 10 de Novembro de 1477, soube que D. Afonso V havia regressado a Portugal, e já se encontrava em Cascais. Perguntou então ao Duque de Bragança e ao arcebispo de Lisboa D. Jorge da Costa, como é que havia de tratar D. Afonso V, se como pai ou como rei. A resposta que lhe foi dada, segunda a lenda, não lhe teria agradado.

E TUDO MUDOU



As Provas do Colombo Português

4. Colombo em Lisboa

Lisboa foi o grande centro das navegações dos séculos XV e XVI, onde se realizaram notáveis avanços na cosmografia, cartografia, construção naval, farmacopeia e em muitas outras áreas do conhecimento.

Aqui viverem grandes navegadores e aventureiros como Diogo Cão, Bartolomeu Dias, Cristovão Colombo, Vasco da Gama, Pedro Alvares Cabral, John Cabot, Juan de La Cosa, mas também aldrabões como Américo Vespúcio.

Colombo fez questão de deixar escrito que durante catorze anos, isto é, entre 1470-1484 ou 1474-1488, procurou convencer D. João II, a aceitar a aceitar a sua ideia de atingir a Ásia navegando para Ocidente, mas o rei não se deixou convencer. A maioria dos seus  encontros com o principe e depois rei, terão ocorrido certamente em Lisboa.

Foi em Lisboa, como veremos, que viveu, casou com Filipa Moniz Perestrelo e teve vários filhos. Aqui residia também o seu irmão Bartolomeu Colón, ao que sabemos desde muito novo. 

2. Fixação

Hernando Colón, afirma que o seu pai - pobre tecelão de Génova - veio para Lisboa, em Agosto de 1476, na sequência de uma batalha e de um naufrágio ao largo do cabo de S. Vicente, no Algarve. Colombo teria nadado até à costa, onde foi socorrido e protegido pela população, vindo depois para Lisboa.

Estamos perante uma historieta fabricada para ocultar a sua identidade. A sua presença em Lisboa é seguramente muito anterior. Sabemos que, em 1470, um corsário de nome Pedro Coulão andava ao serviço de D. Afonso V, nomeadamente a atacar navios de Veneza. 

2.1. Local de Culto

 Após se fixar em Lisboa, ao contrário do que seria de esperar, não frequentava a Igreja da comunidade italiana de Lisboa, a Igreja do Loreto

Escolheu para ir à missa uma igreja fora de portas, distante do centro da cidade: - a Igreja do Convento de Santos, viuvas e  familiares dos cavaleiros da Ordem de Santiago de Espada de Portugal. O local marcava o fim da cidade e o inicio do campo.

O convento era frequentado por D. João II, que foi mestre desta Ordem militar entre 1472/3 e 1491 (11). 

"...( Colombo ) costumava ir à missa ao mosteiro de Santos de que Filipa era comendadora, e teve tanta prática e amizade com ele que se casaram.", Hernando Colon, Historia del Almirante
A acreditar na biografia oficial, Colombo frequentava um dos conventos mais importantes da cidade no século XV, onde só a alta nobreza tinha acesso. 
Real Paço de Santos, na primeira metade do século XVI. Reparar nos barcos na praia de Santos, num marco cravado na areia, assim como na magnifica cerca do convento que chegava até ao rio Tejo. Pormenor da iluminura de Simon Bening (1483-1561), na Genealogia dos Reis de Portugal, Londres, Museu Britânico.
História da Zona de Santos. O Convento de Santos guardou até 1490, as relíquias dos santos mártires de Lisboa -  Veríssimo, Máxima e Júlia -, as mais antigas da cidade e que simbolizam a sua conversão ao cristianismo (4). A procissão dedicada a estes santos mártires era das mais imponentes.
Após a reconquista de Lisboa (1147) foi erguida no local uma ermida em memória destes mártires. Em 1194 junto à ermida foi construído um convento para os cavaleiros da Ordem de Santiago de Espada. Quando estes mudaram a sede Ordem para a vila de Alcácer do Sal, o Convento de Santos passou para a albergar viúvas e filhas solteiras destes cavaleiros (1233). 
A zona de Santos até ao século XVI era um arrabalde de Lisboa, caracterizado por uma extensa praia. O cruzado Orborne diz que o local pertencia a Campolide, outros mais tarde dirão era da Bela Vista.
Apesar da praia não possuir um cais, não deixava de ser muito frequentada por navios que aí estacionavam, nomeadamente os que estavam envolvidos no tráfego marítimo entre as duas margens do rio Tejo. No princípio do século XV, Fernão Lopes, escrevia o seguinte sobre a praia de Santos: "par a gramde espessura de mujtos navios que assi jaziam ante a cidade, como dizemos, híam ante as barcas Dalmadaa aportar a Santos que he hum gramde espaço da çidade, nom podendo marear perantrellas".
A partir do século XV, com o impulso dado pelos descobrimentos marítimos começam a surgir no local estaleiros navais ao longo da praia de Santos e de Boa Vista, assistindo à  fixação de grande número de pescadores, marinheiros e gentes do mar.
Em resultado do crescente número de navio no local, em 1478, segundo Júlio de Castilho, surge um "empalmadeiro" de naus e navios na praia de Santos. A praia começa a ser alvo de sucessivos aterros para a construção de estaleiros e ancoradouros, constituídos por tabuleiros assentes em estacas muito juntas, espetadas a maço no mar (Damião de Góis). 
D. João II mandou erguer na praia de Santos uns marcos que assinalavam aos que chegavam de barco à cidade, que careciam de autorização para o puderem fazer, uma medida destinada a evitar a propagação de epidemias.
Face a esta profunda transformação da zona de Santos, D. João II, 1490, mandou construir um novo convento para as comendadeiras a oriente da cidade. O local do antigo convento passou a ser denominado de Santos-o-Velho, e o do novo de "Santos-o-Novo", para onde foram levadas as relíquias dos santos mártires.
Com excepção da Igreja, o que restava do antigo convento de Santos foi "alugado", pouco depois de 1490, por Fernando Lourenço (9), feitor da  Casa da Mina, que o transformou num bonito palácio.
O rei D. Manuel I gostou tanto do palácio que dele tomou posse, em 1501, transformando-o no Paço Real de Santos. O Rio Tejo banhava a cerca do paço.
Foi nele que recebeu neste ano, o embaixador de Veneza que vinha solicitar o seu apoio na luta contra os turcos.  Reza a tradição que foi nele que assistiu à chegada da armada, a 25/2/1514, que trazia a embaixada do Prestes João, e aqui recebeu o embaixador. Com a morte de D. Sebastião, em Alcácer-Quibir, o paço entrou em decadência.
Mais tarde tornou-se na residência dos descendentes do Duque de Aveiro (1626), e de seguida morada dos marqueses de Abrantes. O magnifico edificio alberga atualmente a embaixada da França.
A criação do Paço Real de Santos deu um enorme impulso à fixação no local da população. A comunidade de pescadores e negros acabou por dar origem ao bairro da Madragoa, onde surgirá o conhecido o Mocambo, um bairro dos negros. 
2.2. Uma lenda Inspiradora
A lenda dos santos mártires de Lisboa terá inspirado a criação da história de duas chegadas de Colombo a Lisboa.
A versão mais antiga da lenda destes mártires aparece no Martiriológio de Usuardo que data de 875. A partir desta data estes mártires são referidos noutros textos, sendo o seu culto muito difundido no antigo condado Portucalense, no condado de Coimbra e na Galiza(8). Lendas que seriam do conhecimento dos frequentadores do Convento de Santos.
Numa versão da lenda afirma-se que os três irmãos, de origem aristocrática, viviam em Roma quando lhes apareceu um anjo que lhes disse para virem para Lisboa, onde "alcançariam a coroa do martírio"(9). Em Lisboa foram martirizados e os seus corpos atirados à água no meio do Rio de Tejo, mas milagrosamente vieram ter ao local que ficou conhecido de Santos.
No século XV, antes de 1471, foi escrita uma narrativa apócrifa destes mártires (5) que Colombo certamente conheceu (6).
Terá igualmente conhecido o mais famoso dos milagres do século XV ligado ao culto destes mártires (7).Este milagre ocorreu, em 1471, envolve uma batalha, uma tempestade e um naufrágio. Quando D. Afonso V conquistou Arzila, haviam muitos soldados no mar, que foram apanhados por uma tempestade de noite. Perante o perigo pediram perdão e protecção aos mártires de Lisboa. Milagrosamente foram levados até Cádiz e dali a Barrameda, regressando são e salvos a Portugal.
2.3. Um Episódio Marcante
Na altura que Colombo frequentava o Convento de Santos,  D. João II, ainda príncipe, também o fazia. Há um episódio histórico que regista este facto.
Quando D. Afonso V foi para França, D. João ficou como rei em Portugal. Estando a viver nas casas do convento ou num paço  junto ao mesmo (10), no dia 10 de Novembro de 1477, soube que D. Afonso V havia regressado a Portugal, e já se encontrava em Cascais. Perguntou então ao Duque de Bragança e ao arcebispo de Lisboa D. Jorge da Costa, como é que havia de tratar D. Afonso V, se como pai ou como rei. A resposta que lhe foi dada, segunda a lenda, não lhe teria agradado.

3. Família
Colombo tinha família em Lisboa? As versões são contraditórias.

3.1. Bartolomeu Colon
Uns afirmam que, em 1476, já residia Lisboa o seu irmão Bartolomeu Colon, que se dedicava à cartografia. Outros, dizem que Colombo foi o primeiro a residir em Lisboa, tendo pouco depois mandado vir o seu irmão, ambos tendo-se dedicado inicialmente à cartografia.

Bartolomeu Colón viveu em Lisboa até 1488, quando foi para Inglaterra para vender a ideia do seu irmão. Las Casas afirma encontrou documentos que comprovavam que Bartolomeu e/ou Colombo participaram na viagem de Bartolomeu Dias ao Cabo da Boa Esperança. A sua ida para Inglaterra teria, segundo Jaime Cortesão, o objectivo de divulgar (vender) esta preciosa informação. Em 1493 teria regressado a Lisboa, antes de se dirigir para Castela.


3.2. Filipa Moniz Perestrelo
O convento de Santos, albergava no século XV, apenas 12 comendadeiras, isto é, mulheres, viúvas e filhas de cavaleiros da Ordem de Santiago de Espada. Esta ordem militar foi estabelecida em Portugal, desde o inicio da nacionalidade (XII), podendo os cavaleiros casarem-se. 
Foi neste convento que conheceu a sua futura esposa - Filipa Moniz Perestrelo - uma das 12 comendadeiras da Ordem de Santiago de Espada. 
Quando Colombo frequentava o Convento, a madre comendadeira  -  D. Ana de Mendonça - era amante do próprio rei D. João II, tendo desta relação nascido um filho - D. Jorge de Lencastre (1480 -1550). O seu pai fez tudo para que fosse rei, entre 1491 e 1494, dando-lhe o ducado de Coimbra, o senhorio de Montemor-o-Velho, tendo-lhe sucedido como mestre de Santiago de Espada.
Igreja de Santos, em Lisboa. Foi na primitiva Igreja que existia neste mesmo local que Colombo conheceu e se casou com Filipa Moniz Perestrelo. Pode-se observar ainda os enormes muros que rodeavam o convento, onde hoje está instalada a Embaixada de França em Portugal. 
3.2.1. Igreja de Santiago
Não há consenso sobre o ano em que Colombo se casou com Filipa Moniz Perestrelo. Apontam-se datas entre 1478 e 1484 ! Uma coisa é certa: Este casamento carecia de autorização real, dado que D. João II era o Grão-Mestre desta Ordem Militar. O casamento terá sido realizado na igreja de Santiago junto às Portas do Sol. 
3.2.2. Filhos
Colombo deixou escrito, em três momentos diferentes, que tinha vários filhos de Filipa Moniz Perestrelo, quando foi para Castela em fins de 1484. O único nome que se conhece filho conhecido é Diogo Colon, que veio a ser o 2º. Almirante das Indias.
3.2.3. Panteão Familiar: Convento do Carmo (Lisboa)
A familia de Filipa Moniz Perestrelo, tinha o seu panteão na Igreja do Carmo em Lisboa.
Filipa foi aqui sepultada, em 1497, na Capela da Piedade. Ao contrário do que se afirma, não morreu em 1484. O próprio Colombo desmentiu esta afirmação, ao dizer que em 1484 deixara em Portugal "mulher e filhos".
Este convento era o terceiro maior edificio religioso da cidade, logo a seguir à Sé e ao Convento de S. Francisco. Foi fundado por D. Nuno Alvares Pereira e pertencia à Ordem dos Carmelitas.
Um dos tios de Dª. Filipa  - Frei Christovam Moniz -, pertencia a Ordem dos Carmelitas, tendo sido eleito prior deste convento em 1510, cargo que exerceu até 1528. Em 1518 recebeu um avultado empréstimo de D. Diego Colón - 100 castelhanos em ouro. Em 1523 estava em Sevilha a fazer negócios com Diego Mendez Segura. D. Diego Colón contemplou Frei Christovam Moniz, neste ano, no seu Testamento. 
A familia de Colombo estava certamente envolvida nas cerimónias que, em 1522, rodearam a transladação dos restos mortais de D. Nuno Alvares Pereira para um novo túmulo em alabastro. O túmulo foi oferecido por Dona Joana (1479-1555), Duquesa de Borgonha e da Flandres, mulher de Filipe I de Castela, filha dos reis católicos e mãe de Carlos V e tetraneta de D.Nuno. A cerimónia de transferência foi feita na presença de D. João III.  A neta de Colombo, casou-se com D. Jorge de Lencastre, descendente directo de D. Nuno Alvares Pereira.
4. Amizades e Cumplicidades
Quem eram os amigos de Colombo em Lisboa? Se tivermos em conta, os seus escritos, mas também outros que lhe são atribuídos pela historiografia italiana, tinha um numeroso e influente grupo de amigos em Lisboa.
4.1.D. João, Principe e Rei
Colombo, como dissemos, afirma que durante 14 anos andou em conversações com este rei, cujos explorações marítimas lhe haviam sido confiadas, em 1474, pelo seu pai D. Afonso V.
O rei ter-lhe-á facultado, por exemplo,  a correspondência trocada com Toscanelli, por intermédio do cónego Fernando Martins, em1474.
Paços da Alcaçova, no início do século XVI.
Fragmento da iluminura da Crónica de D. Afonso Henriques, por Duarte de Galvão. Museu Castro de Guimarães, Cascais.   
O Palácio real das Alcaçovas foi durante todo o século XV a principal residência dos reis de Portugal. Foi aqui que nasceu e viveu grande parte do tempo D. João II. Estes Paços estão ligados ao momentos decisivos das explorações marítimas do mundo. D. João III também aqui nasceu (1502), dois dias depois o mestre Gil Vicente fez nestes Paços a sua 1ª. apresentação de um Auto ( Monólogo do Vaqueiro ).
Colombo faz questão de assinalar alguns encontros, em Lisboa, onde D. João II esteve presente
Igreja de Carnide
Era nesta igreja de Lisboa que os navegantes deixavam muitas coisas curiosas, como as célebres canas de bambu que vieram dar à ilha da Madeira e ilha do Faial (Açores) e que comprovavam a existência de terras a Ocidente. Colombo, Martin Behaim e Jerónimo Munzer falam delas.

Foi aqui que D. João II se reuniu, em Junho de 1483, com Cristovão Colombo para discutirem, uma vez mais, a questão da existência de terras a ocidente. 
José Vizinho
No ano de 1485 regressou a Lisboa para assistir nos Paços Reais à exposição de matemático José Vizinho dos seus cálculos astronómicos feitos na Guiné, com vista à determinação da altura do Sol. Elementos fundamentais para a navegação astronómica.
Bartolomeu Dias
Em Dezembro de 1488 estava novamente em Lisboa para assistir à chegada de Bartolomeu Dias da sua viagem ao Cabo da Boa Esperança. Ter-se-á deslocado a Beja, para assistir nos Paços do Duque de Beja à discussão dos resultados da expedição com D. João II.
A amizade era enorme entre o rei e o navegador, ao ponto do primeiro o tratar por "especial amigo" (1488). Esta ligação a D. João II revelou-se sempre perigosa, por isso a procurou ocultar. No célebre Memorial de Mejorada (1497), afirma que a 4 de Março de 1493, D. João II estava em Lisboa, querendo desta forma dizer que não teve outro remédio senão encontrar-se com o rei. Trata-se de uma típica mentira de Colombo. Na verdade teve que fazer uma grande jornada para se encontrar com o rei, tendo mantido conversações durante três dias. Em 1500 refere, numa carta, as acusações que foi alvo quando se dirigiu para Lisboa. Acusaram-no de ter ido entregar as Indias a D. João II (Textos, 434).

4.2. Alta Nobreza
Colombo, devido ao seu casamento com Filipa Moniz Perestrelo era aparentado com a alta nobreza de Portugal, nomeadamente a Casa de Bragança e a casa do Duques de Beja-Viseu. Esta terá sido uma das razões porque "fugiu" para Castela, como fizeram muitos outros nobres portugueses envolvidos nas conspirações de 1483 e 1484. Mais
Entre os seus protectores e amigos em Castela, destaca-se o poderoso chanceler do reino  - D. Alvaro de Bragança -, que tinha o seu paço na freguesia de S. Cristovão. Ainda subsiste um dos portais deste paço. O seu filho - D. Jorge de Bragança  -, casou-se com a neta de Colombo. Os descendentes de D. Alvaro vieram a herdar o títulos e domínios de Colombo.

Não muito longe dos Paços de S. Cristovão, ficava os Paços de Santo Elói da rainha Dona Leonor, com quem Colombo se reuniu no Convento da Castanheira após o seu regresso da América.
4.3. Navegadores
Colombo faz questão de assinalar o nome de navegadores e cosmógrafos portugueses, procurando demonstrar a sua enorme familiaridade com os mesmos. Distingue, inclusive, homónimos. A 4 de Março de 1493, faz questão de afirmar que conversou no Tejo com Bartolomeu Dias de Lisboa, que era distinto do Bartolomeu Dias do Cabo da Boa Esperança.
Fica em Pirescoxe (Sacavém), nos Paços do almirante Castelo Branco, em Alhandra na casa de Afonso de Albuquerque, etc.
4.4. Florentinos
Em Castela os únicos italianos com que se dava era com os florentinos, mas desde que estivessem vindo de Lisboa. Entre eles destacam-se Bartolomeu Marchione e Juanoto Berardi.
Bartolomeu Marchione (ou Marcchionni), o possível financiador da 1º. viagem de Colombo Foi sepultado, em 1527, na Igreja de S. Domingos, mas precisamente na Capela do Espírito Santo, onde tinha jazigo perpétuo para si e a sua descendência. 

Em 1497 quando D. Manuel I para agradar aos reis de Espanha, obrigou os judeus a converterem-se à força ao cristianismo, um grande número deles escolheu esta igreja para o fazer. Dez anos depois foi na mesma que ocorreu um pseudo-milagre envolvendo um judeu que acabou por desencadear um pavoroso massacre de judeus na cidade de Lisboa.

 A Inquisição anos depois instalou-se junto ao local.
Juanoto de Berardi, era filho de Lourenço de Berardi. Estabeleceu-se em Lisboa, na primeira metade do século XV.  Foi sócio de D. Lopo de Almeida na exploração das minas de ouro da Adiça, na foz do Rio Tejo (1469-1473?).
Hernando Colon (Hist. del Almirante, cap.VII), afirma que Lourenço de Berardi foi quem em Lisboa, ao saber do interesse de Colombo pelas coisas do mar, o informou da correspondência entre o cónego Fernando Martins da Sé de Lisboa e Paolo Toscanelli sobre as possibilidade de uma viagem entre Lisboa e a Ásia navegando sempre para ocidente, e os colocou em contacto. A célebre carta de Toscanelli foi escrita em Florença, a 25 de Junho de 1474.

4.5. Judeus
Colombo tinha uma relação muito intima com os judeus e cristãos-novos. Lisboa, no século XV, tinha uma enorme comunidade de judeus, três grandes sinagogas, etc. Entre os judeus com quem se cruzou em Castela, destaca-se Isaac Abravanel, natural de Lisboa.
É quase certo que Colombo viveu em Alfama. Conhecedores deste facto, os falsários das suas alegadas dividas, fizeram-no amigo de um "judeu" que vivia nas portas de Alfama (Codicilo, 1506).

4.6. Genoveses

Ao contrário do que se possa pensar, Colombo não se dava com genoveses. Em Castela ignorou os grandes mercadores genoveses. Os únicos que lhe são associados, aparecem apenas em documentos considerados falsos ou falsificados. Tratam-se de papéis que foram forjados para estabelecerem uma ligação do mesmo à cidade de Génova. Para dar alguma credibilidade aos mesmos, os falsários viram-se na obrigação de associarem os ditos genoveses sempre a Lisboa.


A verdade é que Hernando Colon e Las Casas, tentando dar alguma coerência à história que criaram, afirmaram que depois do naufrágio de 1476 (descrito com base num relato de 1486), Colombo veio para  Lisboa, onde se integrou na comunidade de genoveses aqui residente.

5. Aprendizagem

Latim
Partindo do pressuposto que Colombo era o tecelão genovês descrito na historiografia italiana, os historiadores foram obrigados a admitir que o mesmo quando chegou a Lisboa era analfabeto (1). Foi aqui que aprendeu a ler e escrever, aprendeu latim, aritmética e outros saberes que quando foi para Castela revelou dominar.

Cosmografia
Em Lisboa estudou cosmografia, astronomia e aprendeu a arte de navegar pelos astros. É com grande orgulho que escreve que estava em Lisboa, junto de D. João II, quando o mestre José Vizinho regressou da Guiné, com os cálculos que efectuara sobre as alturas do Sol (Textos, 91). Diz que em Dezembro de 1488, estava também em Lisboa quando regressou Bartolomeu Dias do Cabo da Boa Esperança. Deslocou-se depois a Beja, para assistir junto do rei à apresentação dos resultados da expedição. (Textos, 92).

"Este Cristóbal Colombo ... cuando ya fué mancebo se dió al arte de la mer y pasó a Lisboa, em Portugal, donde aprendió las cosas de cosmografia, etc". Bartolomeu las Casas, Hist. das Indias, I, p.25.

Hernando Colon, afirma que Colombo, depois de casar com Filipa Moniz Perestrelo foi viver para casa da sogra em Lisboa, e não em Porto Santo, como se afirma. "Esta, al ver que él era tan aficionado a la cosmografía .... le dio los escritos y cartas de marear que le habían quedado de su marido. El Almirante, con ello, se entusiasmó aún más, y se informó de los otros viajes y navegaciones que entonces los portugueses hacían por la Mina y la costa de Guinea, gustándole mucho hablar con los que por allí navegaban", Hernando Colon, Hist.del Almirante, cap. IV

Quem aprendeu primeiro cosmografia em Lisboa? Colombo ou Bartolomeu Colon? Hernando Colon (Hist. del Almirante, cap.II), afirma que foi Colombo que depois a ensinou ao seu irmão em Lisboa.

É possível que tenha aprendido estes saberes nos Estudos Gerais de Lisboa. Como é sabido, a Universidade de Lisboa foi criada em 1290, sendo transferida para Coimbra em 1308. Depois de várias andanças fixou-se em Lisboa entre 1377 e 1537.
Entre os seus protectores foi o Infante D. Henrique que em 1431 lhe doou várias casas e estabeleceu os estudos de Astronomia, apoiados na Aritmética e Geometria como ferramentas imprescindíveis para os estudos nauticos. 

Apesar dos seus enormes conhecimentos nauticos, não é certo que Colombo tenha estudado nas Escolas Gerais, situadas junto ao Mosteiro de S. Vicente. O primitivo edificio ficava no Pátio dos Quintalinhos, no n.º 3 das Escolas Gerais.



6. Navegações

Colombo faz questão de assinalar que a partir de Lisboa navegou por todo o Oceano Atlântico, e contou não apenas na cidade, mas também nestas viagens com os indícios da existência de terras habitadas a Ocidente.

Afirma que com frequência navegou de Lisboa para sul, tendo ido à Guiné (Textos, 90) e à Costa da Malagueta. Foi ao Castelo de S. Jorge da Mina, que D. João II, mandou construir em 1481. Las Casas afirma que encontrou provas nos documentos que consultou de Colombo que o mesmo, e/ou o seu irmão foram em 1488 na expedição ao Cabo da Boa Esperança...

Para norte, a partir de Lisboa e ao serviço de Portugal diz que foi a Inglaterra, a Galway (Irlanda), terá ido também à Islandia ou mesmo à Gronelândia. Viagens que tem sido fixadas entre 1476 e 1477. 

No final da vida, faz questão de assinalar aos reis católicos numa carta, datada de 1502, para terem cuidado com a escolha dos pilotos, porque nem todos conheciam efetivamente as rotas que passavam por Lisboa (Textos, 475). 

7. Cartógrafo

Um dos grandes falsários italianos - Agostino Giustiniani - foi o primeiro a afirmar que Bartolomeu Colon estava em Lisboa, antes de 1476, dedicando-se à atividade de cartógrafo, tendo nela iniciado Colombo.

Hernando Colon e Las Casas acusaram-no de ser um falsário, deixando todavia entender que os dois irmãos haviam exercido durante algum tempo a atividade de cartógrafos em Lisboa.

Em Castela, Colombo ter-se-ia dedicado à venda de livros em Sevilha...

8. Agente Comercial

Um dos polémicos papéis falsificados pelos italianos, os de "Assereto" (1904), tiveram o condão de introduzir ideia que Colombo andou também no comércio de açucar da Madeira. Em Julho de 1478, o mercador Paulo (ou Lucas) de Negro, residente como Colombo em Lisboa, enviou-o como seu agente comercial à Madeira para adquirir uma quantia não determinada de açúcar.

O dinheiro não apareceu no valor acordado e o patrão do navio - o português Fernando Palensio não fez o carregamento, manifestando-se prejudicado. Colombo atua como um simples agente comercial, atribuindo todo o conhecimento dos factos e dos navios a Fernando Palensio. No Tribunal de Génova, onde teria sido ouvido em 1479 sobre  caso, limita-se a afirmar que estava de partida para Lisboa onde residia.    

Noutros escritos releva-se um observador dos movimentos da Andaluzia para o porto de Lisboa. No dia 28 de Maio de 1498, assinala que uns piratas franceses tomaram um navio que saiu de Palos para Lisboa, carregado de trigo.(textos, 365).

Atento ao comércio de Lisboa, assinala em Janeiro de 1505 que chegou da India navios carregados de ouro (textos, 526).

9. Imagem da Cidade

No dia 14 de Março de 1493, faz questão de assinalar numa carta que o porto de Lisboa era a "maior maravilha do mundo" (Textos, 226).

No dia 19 de Fevereiro de 1493, associa Lisboa a uma terra de segurança.

Faz questão de assinalar no Diário de Bordo da primeira viagem, que sabia muito bem a localização de Lisboa. No dia 15 de Fevereiro de 1493, regista que havia muitos enganados se julgavam junto ao Cabo da Roca em Sintra, junto a Lisboa. A partir da ilha de Santa Maria (Açores), dirigiu-se directamente para Lisboa. Se alguns a bordo continuavam sem saberem onde estavam, Colombo no dia 4 de Março faz questão de assinalar onde se encontravam - cabo da Roca, perto de Sintra- , e que o sabia reconhecer perfeitamente.

Colombo, não necessita de ajuda para entrar no Rio Tejo, no regresso da primeira viagem. Faz questão de assinalar que conhece muito bem a sua foz do Rio Tejo , nomeadamente as minas de ouro da Adiça.

Conhecedor do sistema defensivo do Tejo, Colombo não deixa de registar o imponente navio que D. João II havia mandado construir para defender a cidade. No Diário de Bordo, a 5 de Março 1493, escreve que a nau estava fundeada no Restelo era " la más bien artilhada de artillería y armas que diz que nunca nao se vido", o seu patrão chamava-se Bartolomeu Dias de Lisboa e o capitão Alvaro Damião.

Garcia de Resende, numa descrição próxima da de Colombo, refere que esta nau tinha "mil tonéis... que foy a mayor e mais armada que se nunca vio, mais a fez pera guarda do rio que pera nauegar" (cap.CLXXXI).

10. Recepção Entusiástica

Se população de Cascais rezou para que a caravela de Colombo se salvasse da tempestade, quando este regressou da América, a população de Lisboa recebeu-o de forma entusiástica. O capitão da nau, depois de saber que quem vinha a bordo da Niña era Colombo, "con mucha orden, con atabales y trompetas y añafiles, haziendo gran fiesta vino a la caravela, y habló con el Almirante y le ofreció de hazer todo lo qu`él mandase." (5/3/1493)

A caravela de Colombo começou por lançar ferros, no dia 4 de Março de 1493, no Restelo, à entrada de Lisboa, um local carregado de história das explorações maritimas ao longo de vários séculos (2). Pertencia à Ordem de Cristo. O local pareceu-lhe pouco seguro, porque estava deserto de navios. Uma situação que poderia ser aproveitada por ladrões para a assaltarem, julgando que trazia muito ouro. Corria também a notícia que a caravela não vinha da Guiné, mas das Indias. Foi por esta razão que solicitou para vir para Lisboa, aRibeira das Naus, um local mais seguro.

Na Ribeira das Naus, junto à Casa da Guiné e da Mina, onde  fundeou no dia 6 de Março, a festa foi enorme. Uma multidão veio vê-lo, mas também aos indios que vinham a bordo, dando graças pela descoberta que havia sido realizada. O Diário de Bordo deixa entender que seria muito conhecido em Lisboa.

No dia 7 de Março, no Diário de Bordo assinala a "infinitíssima gente" que continuava a ocorrer à caravela, entre os quais se contavam muitos cavaleiros e oficiais do rei, todos dando "infinitíssima" graças pelo feito conseguido em prol do cristianismo.

No dia 8 de Março, nada mais regista sobre a cidade, pois partiu Tejo acima a caminho de Vale do Paraíso, para se encontrar com D. João II, só regressando a Lisboa no dia 12  de Março à noitinha. Partiu no dia 13, pelas oito da manhã com maré a encher e como vento noroeste, na direcção de Sevilha. No dia 14 ainda aportou a Faro (Algarve).

11. Carta de Colombo Anunciando a Descoberta das Indias
Num acto de verdadeira traição aos reis espanhóis, resolve anunciar aos quatro ventos a sua descoberta. A partir de Lisboa, escreve pelo menos três cartas: uma para Luís de Santagel em Barcelona, outra para Gabriel Sanchez e a última para os reis católicos.

Não possuímos os originais das referidas cartas, mas apenas 12 edições que foram impressas em 1493 por toda a Europa. Em Abril surgiu uma edição em Barcelona. Traduções em latim, três foram publicadas em Roma, uma em Amberes, uma em Basileia e três em Paris.

 Em italiano, versificada por Giuliano Dati, saíram três edições: uma em Roma e duas em Florença. Ao todo 17 edições entre 1493 e 1497 (3).

Colombo procurou dar à descoberta das Indias o máximo de publicidade, de modo a suscitar o interesse de outros reinos europeus, mas também a cobiça de piratas e corsários pelos recéns adquiridos domínios espanhóis.

Esta carta escrita em Lisboa tem uma grave erro, que muitos atribuem aos impressores. No último período lê-se: "Fecha en la calavera sobre las islas de canarias a XV de febrero año mil CCCCLXXXXIIII" (15 de Fevereiro de 1493). Acontece que neste dia não se encontrava nas Canárias, mas segundo o Diário de Bordo estava a avistar a ilha de Santa Maria nos Açores, donde só partiu a 27 de Fevereiro.

A referência às ilhas canárias não parece tratar-se de um erro do impressor, mas de uma mentira de Colombo, para ocultar as razões da sua visita a Lisboa para conferenciar com D. João II e a facção de Dona Brites. Noutra nota escreve que a carta foi escrita sobre o "mar de castela", quando na realidade estava em Lisboa. Diz que a enviou a 14 de Março, quando neste dia já não se encontrava na cidade, estando ao largo de Faro (Algarve).

Colombo fez questão de associar a descoberta do "Novo Mundo" a Lisboa.

12. Acusação de Traição
A vinda de Colombo directamente do Açores para Lisboa, em 1493, irá constituir um dos principais argumentos dos seus inimigos para o acusarem de traição aos reis católicos. Uma acusação que persistirá mesmo depois do mesmo falecer.

Na célebre carta que dirige, por volta de 1500, a Joana de la Torre, ama do Principe Juan, evoca esta acusação: "Yo creo que se acordará vuestra merced, cuandob la tormenta sin velas me echó en Lisbona, que fui acusado falsamente que avía yo ido allá al Rey (D. João II de Portugal ) para darle las Indias. Después supieron Sus Altezas el contrario y que todo fue con malicia."

Colombo para evitar esta acusação de traição, no regresso da segunda viagem, dirigiu-se não para Lisboa, mas para Odemira, na costa Alentejana de Portugal...
Carlos Fontes.


Património[editar | editar código-fonte]

Arruamentos[editar | editar código-fonte]

A freguesia de Santos-o-Velho continha 43 arruamentos.[3] Eram eles:
  • Avenida de Brasília[4]
  • Avenida Dom Carlos I[5]
  • Avenida Vinte e Quatro de Julho[6]
  • Beco da Galheta
  • Beco do Machadinho
  • Calçada de Castelo Picão
  • Calçada Marquês de Abrantes[7]
  • Calçada Ribeiro Santos
  • Corredor da Torrinha
  • Escadinhas da Praia
  • Largo de Santos
  • Largo Vitorino Damásio
  • Pátio do Pinzaleiro
  • Rua da Esperança
  • Rua das Francesinhas[8]
  • Rua das Janelas Verdes[9]
  • Rua das Madres
  • Rua das Praças[8]
  • Rua das Trinas[8]
  • Rua de Santos-o-Velho
  • Rua de São Domingos[10]
  • Rua de São Félix[8]
  • Rua de São João da Mata[8]
  • Rua do Cura
  • Rua do Guarda-Mor
  • Rua do Machadinho
  • Rua do Meio à Lapa[8]
  • Rua do Quelhas[8]
  • Rua dos Industriais
  • Rua dos Remédios à Lapa[8]
  • Rua Garcia de Orta
  • Rua Presidente Arriaga[9]
  • Rua Vicente Borga
  • Travessa da Bela Vista
  • Travessa das Inglesinhas
  • Travessa das Isabéis
  • Travessa de José António Pereira
  • Travessa de Santos
  • Travessa do Convento das Bernardas
  • Travessa do Pasteleiro
  • Travessa do Pé-de-Ferro
  • Travessa dos Barbadinhos
  • Travessa Nova de Santos
Existiam ainda outros 9 arruamentos reconhecidos pela Câmara, mas não geridos directamente por esta:
  • Pátio das Vacas (Rua de São Félix, 15)
  • Pátio do Delfim (Rua do Cura, 24)
  • Pátio do Rato (Rua das Trinas, 99)
  • Pátio Gomes Pereira (Avenida Vinte e Quatro de Julho, 106)
  • Pátio Loiça / Pátio Lousa (Rua Garcia de Orta, 11)
  • Pátio Sem Nome (Rua Vicente Borga, 152)
  • Pátio Sem Nome (Travessa do Pé-de-Ferro)
  • Pátio Trinas (Rua das Trinas, 53)
  • Vila Doroteia (Rua das Trinas, 61)





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