sábado, 8 de junho de 2013


CARLOS GUERREIRO, O ENCADERNADOR DO BAIRRO ALTO
Rua de São Boaventura, Nº 4-6 - Lisboa
(mapa)
Só duas coisas se devem julgar pela capa. Um super-herói e um encadernador. E o encadernador que eu descobri nesta pequena oficina do Bairro Alto tem qualquer coisa de super-herói.

Ora imagine-se o parênteses…
Chega-se o pseudo-intelectual com uma primeira edição dos Lusíadas (coisa catita encontrada lá no Club Med de Ceuta, esquecida algures por El-Rei tadinho) e diz:

- Ó Sr.Carlos, tenho aqui este calhamaço que vai ficar lindamente em cima da mesinha da sala, ao lado do bric-à-brac vintage e dos dvd’s do Fassbinder. Mas preciso que me apare aqui as páginas e que me faça uma capa nova, assim meia retro. Pode ser?

Ao reconhecer tal exemplar da Raça, em mãos tão ignorantes, Carlos Guerreiro informa imediatamente que isso seria pior que bater n´avó. Os livros devem sempre manter-se originais. Devem, obviamente, ser restaurados mas se de facto se quiser qualquer coisa que faça “pandam” com a decoração, pode sempre fazer-se uma bonita caixa para pôr o dito.

Resultado, o fulano sai de lá todo satisfeito com uma caixinha laroca e o Camões já pode dormir descansado.

Fecha parênteses.

Carlos Guerreiro é um daqueles profissionais à moda antiga, cheio de bons adjectivos. A velha oficina tem mais de 70 anos e Carlos veio para cá ainda garoto… já lá vão 3 décadas.

Nos entretantos, restaurou livros famosos para a Torre do Tombo, encadernou enciclopédias para condes e marqueses, livros de honra para presidentes da república, álbuns para partidos e clubes, ementas para restaurantes, cartões pessoais (daqueles que se trocam, riscando o cargozinho) e por ai fora. Além de ser, seguramente, um dos melhores na sua área, Carlos é também um grande artista na arte de gravar e dourar encadernações, criando maravilhosos exemplares.

Se lá for, ele mostra-lhe tudo. As prensas antigas, as letras de tipografia, os bronidores, os compenedores, os vazadores, os ferros para dourar, as antigas ferramentas, as peles e o ouro fino.

Além de anos de sabedoria e apuramento técnico, Carlos é ainda um conservador ecológico, fazendo os seus próprios produtos com ingredientes naturais. Por falar nisso, nada como levar umas cervejinhas para acompanhar a conversa. Mas cuidado! Se for visitá-lo arrisca-se seriamente a passar uma tarde na cavaqueira porque, para além de um grande artesão, Carlos é genuinamente simpático e generoso. Ou, como dizia o seu Mestre:

"Um bom homem. Pena é ser sportinguista."




























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